domingo, 12 de fevereiro de 2017

QORPO-SANTO




Qorpo Santo, José Joaquim de Campos Leão (1829-1883) foi comerciário, mestre-escola, vereador e jornalista. E também: dramaturgo, poeta e escritor. Dono de uma obra ímpar, criativa, complexa e inventiva, a atividade intelectual e estética de Qorpo-Santo se desenvolveu após o aparecimento das suas perturbações mentais em 1863; tendo sido interditado em seguida com o diagnóstico de alienação mental.

Durante o ano de 1866, escreveu a maior parte de suas peças de teatro; sendo elas: O hóspede atrevido ou O brilhante escondido; A impossibilidade da santificação ou a santificação transformada; O marinheiro escritor; Dois irmãos; Duas páginas em branco; Mateus e 774 Mateusa; As relações naturais; Hoje sou Um e amanhã Outro; Eu sou Vida, eu não sou Morte; A separação de dois esposos; O marido estremoso ou o pai cuidadoso; Um credor da Fazenda Nacional; Um assovio; Certa Entidade em busca de Outra; Lanterna de fogo; Um parto; Uma pitada de rapé (incompleta).

No ano seguinte, abriu uma tipografia e editou os nove volumes de sua Ensiqlopédia ou Seis Mezes de Huma Enfermidade - já com as características típicas de seu estilo. Esta obra revelou um autor completamente original, que antecipou, mesmo que não intencionalmente, procedimentos formais da poesia e do teatro do século XX, além de reunir crônica, biografia e prosa. No dia 1 de maio de 1883 o escritor morria em Porto Alegre, aos 54 anos de idade, de tuberculose pulmonar.

Apesar de ser um homem com certa popularidade e possuidor de alguns bens, Qorpo-Santo teve sua produção artística praticamente ignorada por seus contemporâneos; isso parece se dever em muito às transformações pelas quais o escritor passou. O respeitado professor converteu-se em uma figura extravagante, cheia de manias e com ideias estéticas pouco convencionais para a sociedade do século XIX.

Foi através da transfiguração do pacato José Joaquim de Campos Leão, no estranho visionário ato-nomeado Qorpo-Santo que nasceu o autor inventivo e revolucionário. Os trabalhos artísticos nascidos nessas condições, inevitavelmente estariam destinados a incompreensão, sobretudo em um contexto culturalmente acanhado como haveria de ser a Porto Alegre oitocentista. No entanto, foi em 1966, cem anos depois que sua produção dramática foi concebida, um grupo de teatro de Porto Alegre estreou no palco do Clube de Cultura, sob direção de Carlos Sena, as comédias Mateus e Mateusa, Eu sou vida; eu não sou morte e As Relações Naturais.

A década de 1960 resgatou alguns autores essenciais, esquecidos e não compreendidos pelo século XIX e pela primeira metade do século XX. Joaquim de Sousa Andrade, Sousândrade (1832 - 1902), poeta maranhense, foi redescoberto pelo estudo dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos em 1964, com o lançamento de ReVisão de Sousândrade. Pedro Kilkerry (1885 - 1917), poeta baiano, foi resgatado pelo estudo de Augusto de Campos em 1971. Oswald de Andrade (1890 - 1954), poeta paulista, teve sua reintrodução no ciclo artístico através do lançamento dos estudos críticos publicados (mais uma vez!) pelos irmãos Campos a partir do início da década de 1960 e, também, pela encenação de O Rei da Vela (peça de 1937) em 1967 pelo Teatro Oficina de São Paulo.

A perspectiva que norteia a obra de Qorpo-Santo parece tender para as dualidades e expressar a convivência problemática de dois mundos diversos entre si. Sendo assim, é válido destacar que o termo desdobramento é reincidente na obra do comediógrafo, não apenas como motivo próprio do universo ficcional de sua obra e das relações entre as personagens, como linha de força determinante a configuração da estrutura reconhecidamente singular de suas peças.

Referências estudo sobre vida e obra de Qorpo-Santo:
Obras completas de Qorpo-Santo em domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action&co_autor=69

 A produção e a recepção dos escritos de Qorpo-Santo: apontando transformações nas relações entre arte e loucura: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832010000200016

 A obra aberta de Qorpo-Santo: http://www.seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/viewFile/17645/13340

Qorpo Santo - Lanterna de Fogo : qompendio dramaturgiqo em paragrafos e imagens: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000448348

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Ângelo Luís

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